Quando mudar é mais que uma palavra

Você vai precisar se mudar. Vai precisar mudar aqueles pertences todos de um armário para um monte de caixas, que vão parar dentro de um carro. Você vai precisar mudar seu estado de espírito de “medo do desconhecido” para “o mundo é seu”. Você vai precisar mudar sua expressão, assustada, para uma de alívio por, enfim, ter aquilo que tanto queria.

Vai ser necessário mudar os olhos chorosos para um olhar de recomeço e esperança. Mudar a forma de encarar a vida. Você vai ter que mudar a forma como controla sua respiração, seu corpo e a forma como a ansiedade te domina. Vai ter que mudar a maneira como seus defeitos e sofrimentos influenciam em seu corpo e em sua mente.

Vai se mudar e mudar a forma como você encarava o que tanto te fez mal. Você vai mudar até sua forma de agir com aquilo que te faz mal. Vai notar que mudar seus hábitos alimentares não será algo tão cruel assim. Vai compreender que mudar de emprego vai te ajudar a construir um novo futuro. Vai ter que entender que, mesmo mudando tanto, às vezes é necessário não mudar.

Vai compreender que mudar os caminhos para chegar em casa pode ser algo prazeroso, mesmo que signifique o dobro da distância. Vai ter que mudar a postura sempre tão racional e entender que o coração é importante sim, porra. Vai saber que um simples banco, à beira da praia, vai ser capaz de mudar a forma como você pode passar a pensar em alguém.

Vai mudar uma de suas maiores paixões em questão de uma semana. Vai entender que uma pergunta feita a quem está no banco do carona, em meio a uma curva, pode mudar a forma como se encara a felicidade. Vai notar que uma outra pergunta será capaz de mudar seus planos daquele momento em diante.

Você vai mudar seu comportamento, sua maneira de ver o mundo, a maneira como as pessoas te veem. Você vai entender que é necessário mudar. Pode ser que seja uma mudança pequena ou que seja preciso mudar tudo. Mudar, definitivamente, foi a palavra daquele sonhador que, em 2018, só queria viver.

Amor com prazo de validade…

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E tudo terminou na escada rolante do mesmo shopping em que tudo começou. Esta é uma história de amor contada no último dia do prazo de duração. Por que, em uma era de obsolescências programadas, o amor também tem validade. Mesmo que o vazio causado pelo desamor – se assim podemos chamá-lo – possa pairar pela eternidade junto àquelas almas que tanto amaram. (mais…)

Amor que vai, volta

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De manhã cedo, Ricardo abre o olho direito, com uma careta de sono, após o bip chato do despertador do celular que insistia em acordá-lo às 6h, em pleno domingo, mesmo horário de todos os outros dias da semana. Leva a mão em relação ao celular, no criado-mudo à direita da cama. Vai tateando o móvel em busca do smartphone e, quando o acha, derruba no chão. Em um salto, busca o aparelho no solo, desativa o alarme e analisa a tela.

– Por sorte não quebrou, disse suspirando.

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Amor com prazo de validade

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E tudo terminou na escada rolante do mesmo shopping em que tudo começou. Esta é uma história de amor contada no último dia do prazo de duração. Por que, em uma era de obsolescências programadas, o amor também tem validade. Mesmo que o vazio causado pelo desamor – se assim podemos chamá-lo – possa pairar pela eternidade junto àquelas almas que tanto amaram.

Ricardo aos risos, dispensava a vestimenta formal usada durante a semana e procurava conforto com bermuda e chinelos, em um sábado ensolarado, enquanto conversava com o irmão Gabriel. Debatia futebol e o quanto o 4-1-4-1 com plantel compactado em campo era eficiente para a defesa. (mais…)

Dia dos Pais: quando as histórias mudam

Fim de tarde

Anualmente, desde sabe-se lá quando, comemora-se o Dia dos Pais no segundo domingo de agosto. Claudio, de 23 anos, filho único, concurseiro há pelo menos seis, desde quando terminou o ensino médio na escola; e estudante universitário há nove semestres.

Embora veja no pai, Alberto, a maior inspiração para todos os planos futuros, não trilhou o mesmo caminho dele, que possui um mercadinho pequeno – ou “armazém”, como dizem na cultura local – localizado na esquina de uma cidade do interior do Rio Grande do Sul. Claudio concluiu a escola, foi a capital Porto Alegre cursar uma faculdade e, neste tempo, aproveitou para fazer alguns concursos públicos, a fim de tentar a tão sonhada estabilidade financeira, sem que, pra isso, tenha que depender do pai. (mais…)

Engenharia futebolística

futebol na tvDe técnico de futebol, todo brasileiro tem um pouco. Ou, ao menos, acha que tem. Ricardo, um engenheiro civil ranzinza de 35 anos, é um torcedor fanático de um time que já viu ganhar o mundo e está há anos em jejum. Ele talvez tenha seguido o caminho da engenharia apenas por não ter dado certo no futebol; garante que não foi por vocação.

O engenheiro é daqueles que joga uma pelada com os amigos às quartas e sábados. Além disso, fica indignado por não achar nenhum jogo na tv em plena segunda-feira, mesmo pagando caro para ter o pacote com todos os canais esportivos de sua televisão a cabo. Quando o jogo não é do seu time, tudo que ele quer é observar o posicionamento dos times em campo e fazer análises táticas. (mais…)

Batismo de uns, excomunhão de outros

batismoMarcelo, um historiador que vive o auge dos seus 40 anos, é um cara que diz acreditar em Deus. Foi batizado na igreja católica e, aos 12 de idade, empurrado pela mãe para a primeira comunhão, da mesma maneira como se empurra um carro que não quer pegar.

Casado há dez anos, apenas no civil, principalmente por não se render a uma religião – pra ele Deus não tem apenas um lado – o cara é daqueles que muda a rota pra evitar passar pela porta de qualquer templo religioso. Já até googlou “como ser excomungado da igreja católica”, e não achou nada convincente. Diante de tanta rejeição, vê a mulher, católica, e que frequenta a missa uma vez a cada dois ou três anos, ser convidada pela melhor amiga, a ocupar o cargo de madrinha de uma de suas filhas. (mais…)

Quando o pensamento te faz mancar

elevadorJorge, um estudante universitário do curso de administração, já não é mais um sedentário. Ele faz faculdade, trabalha e frequenta a academia; menos do que deveria e mais do que gostaria. Por morar no andar mais alto de um grande prédio residencial em uma grande metrópole brasileira, o hábito de usar o elevador já tinha se tornado praticamente um reflexo.

Ao chegar no prédio comercial em que trabalha, no início da tarde de uma sexta-feira do mês de maio, ele resolve esperar um dos dois elevadores do local, que tem sete andares e um fluxo de pessoas um tanto intenso. Jorge trabalha no segundo andar e sente o músculo adutor da perna esquerda reclamar após dois dias intensos de malhação pesada na academia; para ele, o exercício físico também é uma maneira de jogar todas as energias ruins fora, nem que seja na base da força.

O elevador chega, ele entra. Aperta o botão do segundo andar. Dois homens, na faixa dos 40 anos, que também trabalham no prédio, entram. Um deles aperta o botão do sexto andar. A porta começa a fechar e, no último suspiro, uma mão surge do além. As portas voltam a abrir e mais um homem entra. Ele aperta o botão do primeiro andar e as portas se fecham. O silêncio no elevador é quebrado por uma versão instrumental da música “Mas que nada”, de Sergio Mendes.

As portas se abrem, o homem sai. Um dos dois outros homens que ficaram, e desceriam apenas no sexto andar, comenta:

— Quase se jogar pra dentro do elevador para descer no primeiro andar é o cúmulo da preguiça. Por que não usar a escada?

Concordando, o outro ainda acrescenta uma crítica ao físico do homem:

— Talvez seja por isso que está com aquela barriguinha de chopp.

No momento, Jorge, ouvindo a conversa e olhando para a porta, só consegue pensar:

— Puta merda… Vou descer no segundo andar e os caras vão achar que sou um enorme preguiçoso.

O elevador para no segundo andar, as portas se abrem. Um estralo no pensamento faz Jorge sair do elevador mancando. A desculpa mental é como se a intensidade do treino da noite anterior – da qual já está acostumado, diga-se de passagem – ocasionasse em uma semana de molho, por causa do tal adutor da perna esquerda. Era a desculpa que ele queria pra mais tarde, inclusive.

Post scriptum: até o momento, Jorge nem imagina o assunto que perdurou dentro do elevador após ele sair. E, com certeza, nunca vai descobrir. E, não… Ele não foi a academia mais tarde.

Trollada cotidiana involuntária

telefoneHoje, ao ligar para a lanchonete que costumo pedir comida, quase que diariamente, perguntei quais eram os salgados do dia. A atendente, que já virou quase brother, me responde:
– É o Douglas, né? Então, hoje temos todos os salgados disponíveis. Compramos duas bandejas de esfirra de carne por sua causa. Você liga e, geralmente, não tem.
Eu respondo:
– Tô com moral, hein?! Então aproveitando, vou fazer meu pedido. Quero um suco de laranja e uma esfirra… DE FRANGO.
Ela anota e parece repetir o pedido com os dentes cerrados. Escolho a forma de pagamento, bato o telefone e, entao, passo a aguardar o pedido chegar ao meu local de trabalho.
Mas, em seguida, um momento de reflexão insonsciente que, ao clarear a mente, se torna questionador. Após desligar o telefone, me dou conta do que fiz (sem maldade, juro!). Tomara que não batizem meu lanche ou coloquem veneno na minha esfirra. Neste momento estou temendo pela minha vida.

Post scriptum: no momento desta postagem, ao menos oito horas após a refeição feita – com algum temor – nenhum efeito colateral se manifestou.